terça-feira, 30 de outubro de 2012

A FÉ II

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Ouvimos por aí a muita gente frases deste tipo:
Eu tenho muita fé que Deus me vai dar o que eu lhe peço!
 
Quer dizer então que aquela “fé” se baseia em Deus dar aquilo que alguém Lhe pede, segundo a vontade, segundo os planos daquele que pede.
O que significa também, que se tal pedido não for concedido, a “fé” deixa de existir, porque ela se firma na obtenção do que se pede, e não na “capacidade” de Deus conhecer o que é melhor para aquele que pede, e, sabendo que a satisfação desse pedido não serve ao impetrante, não satisfazer tal pedido.
 
Tenhamos em conta a mesma frase, mas proferida de outro modo:
Eu tenho fé em Deus, e acredito que Ele me concederá o que Lhe peço, se for de Sua vontade.
 
Poder-se-á dizer que é uma questão de semântica, mas na realidade vai muito mais longe do que a semântica, pois revela posturas completamente diferentes perante Deus e perante a fé em Deus.
 
Se a minha “fé” se baseia naquilo que Deus me dá ou pode dar, então a minha “fé” é uma espécie de “comércio”, ou seja, Deus dá-me o que eu peço e eu acredito n’Ele, ou então, se não me dá, é vã a minha “fé”, ou seja, a minha “fé” deixa de existir porque não tem sentido, visto que aquilo em que acreditava não aconteceu.
 
Esta “fé” nada tem de transcendente, nada tem de dom de Deus, porque se firma apenas nas coisas materiais, palpáveis, que eu posso dominar e das quais me posso servir a meu belo prazer.
Esta “fé” é uma relação que se autodestrói, porque se fixa apenas naquilo que posso obter daquele em que acredito, e não no todo que Ele é, e como tal, falhado o objectivo da “fé” por não obter o que pretendo, falha também o acreditar n’Aquele que é “objecto” da “fé”.
 
Então, se a minha “fé” é esta acima descrita, toda a confiança e esperança colocada naquele de quem quero obter o que pretendo, morre, ao não me ser concedido o que pretendo, e a minha vida, que vivia dessa relação assente numa “fé parcial”, torna-se desesperada porque já não tem nada em que acreditar, em que confiar, em que esperar.
 
A Fé, dom de Deus, não se ocupa do que pode obter do próprio Deus, mas sim, ocupa-se em acreditar e viver esse acreditar em Deus Revelado aos homens, porque sabe também que tudo o que realmente precisa e é bom para a sua vida, lhe virá por acréscimo, por força da confiança e da esperança no Deus a Quem nada é impossível e tudo conhece.
 
Porque a Fé ilumina o pedido, (peço segundo a vontade de Deus), e iluminando o pedido, ilumina a aceitação da resposta de Deus, mesmo que ela não seja conforme os meus desejos, porque faz nascer no meu coração a certeza de que, se tal não me foi concedido, é porque não era o melhor para a minha vida e, assim, Deus que me ama com amor infinito, cuidou de me proteger do que me podia fazer mal.
 
E esta Fé, (a única e verdadeira Fé), leva-me a uma relação tão única, pessoal e intima com Deus, que, mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo nos momentos em que nada me é concedido, mesmo nos momentos em que Deus parece muito longe, a aceitação de tudo é uma constante certeza de fazer a vontade de Deus, (E dizia: «Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres.» Mc 14,36), e assim sendo, saber intimamente que Ele nunca me abandona.
Por isso mesmo esses momentos não são nunca um fim, mas um eterno recomeço na procura da Sua vontade.
Por isso a confiança e a esperança não morrem, mas são sempre vivas, porque Ele faz novas todas as coisas, («Eu renovo todas as coisas.»Ap 21,5), e se são sempre novas, também a vida é abundante e cheia de sentido, porque vive no sentido da Fé.
 
E, por força da Fé, que leva à confiança e à esperança em Deus, essa aceitação nunca é passiva, estática, mas sim activa e dinâmica, e como tal luta para obter, segundo a vontade de Deus, tudo o que necessita para ter a vida e «vida em abundância Jo 10,10».
 
E assim também, por força dessa dinâmica, nasce a necessidade interior de testemunhar a Fé, para que no amor a Deus, que é vivido também necessariamente no amor aos outros, os outros possam perceber como a Fé transforma a vida e lhe dá sentido, abrindo-se assim também eles ao Dom de Deus.
 
Assim como nos exorta o Papa Bento XVI, na Carta Apostólica “Porta Fidei”:
 
«Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus.» Porta Fidei 7
 
«Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada e reflectir sobre o próprio acto com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano.» Porta Fidei 9
 
 
 
Marinha Grande, 30 de Outubro de 2012
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terça-feira, 23 de outubro de 2012

A FÉ

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Posso acreditar num deus só por mim, só pela minha razão?
 
Por exemplo, ao olhar para o universo, para a terra, para as plantas, os animais, a vida, os homens, posso com alguma facilidade acreditar que existe um ser superior, a quem posso chamar deus, que tudo criou do nada, o tudo que depois foi evoluindo.
 
De alguma forma, a minha razão de pessoa comum, (mais correcta ou menos correcta), leva-me a acreditar que esse ser superior, esse deus, tem que existir, para que tudo tenha sido criado e evoluído.
 
E isso é ter Fé?
 
Não, de modo nenhum!
Isso é ter uma crença, porque é algo que nos é ditado apenas por argumentos mais ou menos racionais que, fazendo-me acreditar que esse ser superior existe, não implica uma adesão de vida a esse ser, que neste “acreditar” não tem mais qualquer impacto na minha vida a não ser esse mesmo: acreditar que existe, ou existiu!
 
A Fé, ou melhor o Dom da Fé, é algo que vai muito para além desse “acreditar”, porque não se limita a acreditar, mas a crer implicando uma adesão de vida que reconhece em Deus o Criador Supremo, aquele a Quem tudo pertence, aquele a Quem tudo é devido.
 
É que a Fé vai para além do racional, (embora a razão não seja incompatível com a Fé, antes pelo contrário), porque a Fé é crer num Deus que se dá a conhecer aos homens em toda a Sua Revelação, desde os tempos mais antigos até à Sua revelação final em Jesus Cristo.
 
A Fé envolve o mistério e o mistério não é “resolvido” pela razão, por isso mesmo implica uma adesão que vai para além da capacidade humana, ou seja, o homem precisa de ser iluminado pelo próprio Deus para alcançar essa total adesão à Revelação de Deus.
 
Mas a Fé implica também, para além da adesão, um viver, que não é “estático” como numa crença, (acredito e pronto!), mas sim uma resposta, uma relação entre aquele que tem a Fé, e aquele que é objecto da Fé, Aquele que doa ao homem o Dom da Fé.
 
É possível explicar pela ciência a Encarnação do Filho de Deus, Jesus Cristo, no seio de Maria, sem ela ter “conhecido” homem?
É possível explicar pela ciência a Ressurreição de Jesus Cristo, morto e sepultado depois de três dias?
É possível explicar pela ciência a Presença Real de Jesus Cristo na Hóstia consagrada?
 
Claro que não, que a ciência não consegue explicar estes e outros mistérios do cristianismo, que apenas podem ser acreditados e aceites pelo homem a quem o próprio Deus concedeu o Dom da Fé.
 
E isso torna a ciência incompatível com a Fé?
Também não, porque para além de outros factores, a ciência pode demonstrar, por exemplo, que nos milagres eucarísticos estudados, a “matéria” guardada em relíquia é carne de coração humano, ou que no Santo Sudário há coisas inexplicáveis para a própria ciência, o que ajuda o homem a perceber, (se quiser, iluminado pela Fé), a mão de Deus nesses acontecimentos, ou seja, a presença de Deus no meio dos homens.
 
O acreditar do homem em Deus, como Dom da Fé, é sempre iluminado pelo próprio Deus, mas é sempre também ajudado pela inteligência do homem e pela sua experiência vivencial desse mesmo Dom da Fé, nessa relação pessoal e comunitária com o Deus que se faz presente na vida do homem.
 
Sabemos bem como as palavras que o homem usa são finitas, isto é, não conseguem muitas vezes descrever tudo aquilo que o homem sente e vive.
Quantos autores já tentaram descrever o amor, em prosa e verso, na pintura e na música, enfim em tudo aquilo que é possível ao homem.
Algum verdadeiramente já o conseguiu descrever do modo como cada um o sente, em toda a sua plenitude?
Não, porque há sempre algo que o homem sente e é impossível de descrever, porque as palavras não chegam, embora, no entanto, o homem ao viver o amor saiba que o está a viver, e disso tenha a certeza.
 
Como podemos nós então descrever a Fé?
Podemos ir ao Catecismo da Igreja Católica, ou aos documentos da Igreja, ou aos autores cristãos, e mesmo assim, aquele que tem o Dom da Fé e a vive verdadeiramente, nunca a consegue ver inteiramente retratada nas palavras que lê ou ouve.
 
Porque o Dom da Fé faz parte integrante da plenitude do homem que quer encontrar Deus e a quem Deus chama ao Seu encontro.
E leva a uma relação tão pessoal e íntima com Deus, que se torna impossível de descrever em palavras humanas, mas que pode e deve ser testemunhada, e por isso mesmo o Dom da Fé se “completa” na sua dimensão comunitária.
 
Pode alguém descrever inteiramente um momento de união mística suscitada, por exemplo, num momento de oração ou de comunhão, em que a presença de Deus se torna tão real, que o mundo, (com tudo o que ele representa), desaparece nesse instante?
Vários Santos descreveram momentos desses, testemunhando-os com uma força tal, que nos apetece por vezes sentir transportados para viver esses momentos!
Mas se os experimentamos em nós próprios, não percebemos então que as suas palavras não conseguiram afinal descrever a plenitude de tais momentos?
 
Esses testemunhos, bem como aqueles que vimos e ouvimos no dia-a-dia das nossas vidas, nas comunidades em que vivemos, devem levar-nos a procurar cada vez mais viver o Dom da Fé com que fomos agraciados, para encontrarmos a plenitude da vida que nos foi dada, em Deus e por Deus.
 
«Felizes os que crêem sem terem visto» Jo 20,29, disse Jesus a Tomé, perante a sua incredulidade, que logo foi vencida pela Fé que o levou a exclamar a primeira profissão de fé na divindade de Cristo: «Meu Senhor e meu Deus» jo 20,28
 
Ou ainda como nos escreve São Pedro na sua primeira Carta:
«Sem o terdes visto, vós o amais; sem o ver ainda, credes nele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas.» 1 pe 1, 8-9
 
E não é exactamente isso que nós experimentamos, quando vivemos o Dom da Fé que Deus nos concede?
 
Nas alegrias, na saúde, no bem-estar, mas também, apesar das provações, das dificuldades, das tristezas, de tudo o que a vida no mundo nos proporciona, a nossa confiança, a nossa esperança, a nossa certeza, reside em Deus, no Seu amor por nós, que o Dom da Fé, vivido intimamente e em comunidade, nos confirma nos nossos corações.
 
Por isso é tão verdadeira e bela a frase do nosso Bispo D. António Marto, na sua Nota Pastoral deste ano:
«A fé é bela porque torna bela a vida e é fonte de autêntica alegria» “O Tesouro da Fé, Dom para Todos”.
 
 
Marinha Grande, 15 de Outubro de 2012
 
 
Nota:
Texto meu publicado no Boletim da Paróquia da Marinha Grande, "Grãos de Areia", este mês.
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terça-feira, 16 de outubro de 2012

POR VEZES, SENHOR …

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Por vezes, Senhor,
sinto tão fundo o Teu amor…
 
Ainda há pouco,
logo depois da comunhão,
parecia que ajoelhado a Teus pés,
repousava a cabeça no Teu colo,
e Tu me afagavas o cabelo,
ou melhor,
me fazias festas no coração.
 
Estarei louco?
Não tenho dúvidas que estou,
mas louco de amor por Ti!
Todos os momentos em que Te vivo,
me enchem,
mas sabem a pouco!
 
Eu sei, Senhor,
que no Teu infinito amor,
me dás estes momentos,
para eu perceber,
que na graça da secura,
que tantas vezes me toca,
me confrontas,
me provocas,
me alimentas,
na permanente procura.
 
Então,
porque tantas vezes Te nego
com as minhas atitudes,
com as minhas ausências,
com a minha falta de amor,
àqueles que de mim precisam,
e perante a sua dor,
fico mudo, surdo e cego?
 
Como posso eu querer
guardar apenas para mim
a alegria de Te sentir,
no meu viver,
no meu crer,
no meu existir.
 
Dar-Te como,
se indigno de Ti,
não Te posso reflectir?
 
Amaste-me primeiro,
porque sem o teu amor,
eu não poderia amar,
com o amor verdadeiro!
 
E é nesse amor com que me amas,
nesse amor com que Te dás,
que por Tua graça reflicto,
a alegria de Te ter,
o sentido do meu viver,
a confiança, a esperança,
a certeza da Tua paz.
 
Por vezes, Senhor,
sinto tão fundo o Teu amor…
 
 
 
Monte Real, 16 de Julho de 2012 
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

“DAR À LUZ” A PRÓPRIA LUZ!

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Imagem de Nossa Senhora do Rosário
Igreja Matriz da Marinha Grande
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neste fim-de-semana a paróquia da Marinha Grande, (a minha paróquia), celebrou e festejou a sua Padroeira, Nossa Senhora do Rosário.
 
Foram momentos cheios de sentido comunitário sobretudo nas celebrações litúrgicas, que encheram por completo a igreja matriz da Marinha Grande.
 
Não quero fazer aqui uma reportagem das festas, mas sim salientar entre muitas palavras ditas, sentidas e vividas, uma frase da homilia do Padre Armindo Ferreira, pároco da Marinha Grande, na Missa de Sexta feira à noite, como preparação e inicio das festividades.
 
Disse ele, (não sei se sou inteiramente fiel às suas palavras, mas sem dúvida ao sentido das mesmas), falando de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, e estabelecendo um paralelo connosco fiéis ao encontro de Jesus Cristo:
«Com o nosso sim, com o sim de cada um, também nós “damos à luz”, Jesus Cristo, nosso Senhor.»
 
Explicou ele depois o alcance das suas palavras, mas nessa altura, (mea culpa), já o meu coração e a minha mente se tinham deixado envolver por aquela frase e “partiam à desfilada” na procura de todo o sentido e paralelismo que daquelas palavras me era dado retirar.
 
Obviamente que Maria, pela graça do Espírito Santo, gerou Jesus Cristo no seu ventre e verdadeiramente o deu à luz naquela gruta em Belém.
Para isso foi preciso o seu sim, um sim que a levou para além das coisas do mundo tão difíceis naquele tempo para uma jovem virgem, (ainda não “formalmente” casada), um sim que a levou até ao fim, até dar à luz a própria Luz.
 
E é curioso este trocadilho, (se assim lhe posso chamar), entre o “dar à luz” e a própria Luz, que é Jesus Cristo, o Senhor.
 
Com efeito, se acreditamos e abrimos o nosso coração à presença de Jesus Cristo, também Ele habita em nós, e se habita em nós somos levados a dar testemunho da Sua presença, temos de “dar à luz”, ou seja, abrirmo-nos aos outros para que também eles possam ver a Luz que, pela graça de Deus, está “dentro” de nós.
 
Daí percebermos que o nosso sim a Jesus Cristo, é um sim pessoal, mas também e sempre colectivo, porque se a Luz que está em nós, não for também Luz para os outros, acaba por estiolar e apagar-se irremediavelmente.
Assim como a mulher grávida não pode guardar o seu filho dentro de si e tem que o dar à luz, também nós não podemos, se dissermos sim, guardar a Luz dentro de nós sem a reflectir para os outros.
 
Quase temo escrever a frase que me veio ao coração, mas escrevo-a na mesma: “grávidos de Deus.”
 
É, no entanto, uma “gravidez” diferente, porque nós pertencemos a Deus, mas estando com Ele, também Ele nos pertence.
A mãe alimenta o seu filho na gravidez, nós alimentamo-nos de Deus, em Igreja, em nós e nos outros
 
Mãe e filho, na gravidez, pertencem-se de tal modo e tão intimamente, que se pudéssemos interrogar o filho no ventre da mãe, ele diria que toda a sua confiança e esperança, residem na sua própria mãe.
Isso mesmo me leva a desejar que a minha relação com Deus seja também essa união intima e totalmente dependente, “grávido de Deus”, mas agora na minha dependência para com Ele, abandonando-me totalmente à sua vontade.
 
E depois a mãe tem todo o orgulho, (um orgulho são e grato), em mostrar a toda a gente o filho que lhe nasceu, e não poupa palavras, elogios e gestos para o dar a conhecer aos outros.
E isso leva-nos a pensar se nós, tendo Jesus Cristo em nós, também temos todo o orgulho e gratidão em mostrá-Lo aos outros e d’Ele falarmos com as mais belas palavras e gestos que o Espírito Santo nos inspirar.
 
Dar à luz a própria Luz, foi prerrogativa de Maria no Natal de Jesus, mas também ao longo de toda a sua vida em que humildemente estendeu o seu sim à vontade de Deus, dando testemunho da Luz que guardava no seu coração.
«Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.» Lc 2, 51
 
Também nós podemos, e mais que podemos, devemos, “dar à luz”, a Luz que pela graça da Fé em nós vive e é vida.
 
 
Monte Real, 8 de Outubro de 2012
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terça-feira, 2 de outubro de 2012

QUE É A VERDADE?

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Um comentário do meu amigo Paulo, levou-me a perceber que nunca expliquei a razão do título deste blogue, ou melhor, o que me levou a escolher para dar nome a este espaço, o versículo 38, do capítulo 18, do Evangelho de São João.
 
É uma conhecida frase de Pilatos quando interroga Jesus na manhã do dia da Paixão, e que se torna “intrigante” porque Jesus não dá resposta à mesma.
 
Claro que esta minha reflexão não tem preocupações exegéticas ou teológicas, (para as quais nem tenho conhecimentos), mas apenas e tão só aquilo que sinto e tento viver, “provocado” por este versículo.
 
Em todo o diálogo anterior a esta frase, Pilatos vai tentando com perguntas perceber quem é Jesus, e Este responde-lhe sempre, culminando com a seguinte frase:
«Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Jo 18,37
 
É no seguimento desta frase de Jesus, que Pilatos Lhe pergunta:
«Que é a verdade?» Jo 18,38
Jesus não lhe responde porque a resposta já tinha sido dada, ou seja, Jesus é a Verdade, mas Pilatos, preocupado com as coisas do mundo, do seu cargo, do seu poder, não consegue ver a Verdade.
 
Por isso mesmo, a razão da escolha deste versículo, mais do que citar uma passagem bíblica, é para mim um constante desafio à conversão: A Verdade está no meio de nós e tantas vezes não A vejo, não A reconheço, não A vivo.
 
E não A vejo, não A reconheço, não A vivo, porque deixo que o meu coração se feche à Verdade, para apenas querer ver reconhecer e viver a minha “verdade”, a “verdade” dos meus interesses pessoais; a “verdade” do meu egoísmo, da minha vaidade, do meu orgulho; a “verdade” dos meus prazeres; a “verdade” do “meu” mundo; a “verdade” da minha vontade; a “verdade” do meu “eu” desirmanado de Cristo.
 
A Verdade revelou-se, mas apenas A podem ver reconhecer e viver aqueles que abrem o seu coração, a sua vida, à Revelação da Verdade.
 
Tal como Jesus nos disse,
«Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou.» Jo 14, 27,
também a Verdade que Ele é, não é a verdade que o mundo mostra e como tal não pode ser vista com os olhos do mundo, mas tem que ser vista com os olhos no mundo, voltados para Deus.
 
Ver o mundo com os olhos de Deus, viver o mundo e no mundo segundo a vontade de Deus, é o caminho de conversão que nos leva à Verdade, que nos leva à salvação, pela graça de Deus.
 
Assim, todos os dias em que abro este meu espaço, deverão ser dias em que me pergunto, «Que é a verdade?», para abrindo o meu coração, conformar a minha vida com a resposta que o próprio Jesus Cristo me dá:
«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.» Jo 14,6
 
 
 
Monte Real, 2 de Outubro de 2012
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