terça-feira, 29 de novembro de 2011

«QUE DEUS ESPERAMOS NÓS?»

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Ontem, na Missa da tarde da minha Paróquia da Marinha Grande, o sacerdote que presidia à celebração, fazia-nos esta mesma pergunta durante a homília.

E foi-nos conduzindo nesta reflexão, que despertou em mim a vontade de meditar sobre tão importante pergunta.

Com efeito, vivendo o Advento, tempo de espera, mas também de reflexão, de conversão, para o encontro com o Senhor, devemo-nos perguntar:
«Que Deus espero eu?»

Espero um deus por mim idealizado, por mim “construído”, enfim, um deus que sirva os meus propósitos, os meus desejos, as minhas vontades?

Espero um deus que se “dedique” a dizer sim a tudo o que eu lhe pedir?

Espero um deus que me faça importante aos olhos dos outros, que me faça ser reconhecido pelos outros?

Espero um deus que não me dê missões, “obrigações”, ou necessidades de reflectir e meditar naquilo que faço?

Espero um deus que se “contente” com um simples, “eu acredito”, mas que não me “incomode” com orações e celebrações?

Espero um deus que “perceba” que uma coisa é a minha relação com ele, outra coisa é a minha relação com o mundo?

Espero um deus que me dê “presentes”, que me dê tudo o que quero e julgo ser importante para a minha vida, que me dê o peixe, em vez de me ensinar a pescar?

Espero, enfim, (porque a lista seria longa demais), um deus que nasça igual aos homens, mas que não passe pela Paixão, nem a Morte, mas apenas a Ressurreição?

Se é este deus que eu espero, estou enganado, porque o Deus que nasce da Virgem Maria, e se faz Homem, em tudo igual a nós, (excepto no pecado), é um Deus que “apenas” tem amor para dar.

E esse amor é tão universal, tão infinito, que não se esgota em mim, mas se derrama, em tudo igual, em todos os outros, em todo o tempo e em qualquer lugar.

O Deus que vem ao meu encontro, é um Deus que me liberta de mim próprio, se eu com Ele me quiser encontrar.

É um Deus que nunca me faltará com nada do que verdadeiramente preciso para viver e ser feliz, mas que muito raramente são as coisas que eu julgo, (na minha ignorância e pequenez), importantes para isso mesmo.

É um Deus que me mostra o Caminho, que me revela a Verdade, que me dá a Vida, mas que a nada me obriga, pois tudo faz por amor.

É um Deus que me conduz e ampara, mas não dá os passos que devem ser meus, nem toma as decisões que eu devo tomar.

É um Deus que não quer fazer de mim alguém diferente dos outros, mas quer sim, (por minha vontade própria), fazer-me mais igual aos outros, mais irmão, mais comunhão com todos.

É um Deus que não me quer mudar naquilo que sou, (foi Ele, aliás, que assim me criou), mas quer sim que tudo o que me deu, eu saiba aproveitar para, dando-me mais a Ele me dar mais aos outros, e assim fazendo a Sua vontade encontrar a plenitude da vida que Ele me deu.

Se é este o Deus que eu espero, sou feliz, porque Ele vem, já veio, e só espera que eu me deixe encontrar por Ele, para me dar e fazer viver o verdadeiro Natal.


Nota:
Texto “provocado” pela homília do Padre Pedro Viva, Vigário Paroquial da Paróquia da Marinha Grande, na Missa de ontem.
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terça-feira, 22 de novembro de 2011

PREPARANDO O ADVENTO

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Uma das muitas coisas que o meu pai me ensinou ao longo da minha vida, foi a pontualidade, e, com a pontualidade, o saber esperar.

Quando se é pontual, espera-se sempre que os outros também o sejam, e por isso a espera é sempre uma certeza de que os outros chegam e não vão faltar ao encontro.

Mas nós homens, com as nossas fraquezas e imponderáveis, falhamos muitas vezes os encontros, porque somos impedidos pelas mais diversas razões, e, mesmo quando comparecemos, chegamos muitas vezes atrasados.

Com Deus não é assim!

O Senhor Jesus “comparece” sempre ao encontro, é sempre pontual, e basta nós querermos verdadeiramente encontrarmo-nos com Ele, para Ele logo se fazer presente.

Curiosamente, entre nós homens, aqueles que são muito pontuais até costumam chegar adiantados ao encontro marcado.

Pois com Jesus ainda mais, porque lendo Ele o nosso coração e percebendo o nosso desejo, a nossa vontade de com Ele nos encontrarmos, logo se faz presente, esperando por nós de braços abertos.

Mas nós, os homens pontuais, somos muito exigentes com essa pontualidade, e por isso mesmo, se os outros não chegam à hora marcada, damos-lhes pouca tolerância, e passado um tempo de espera, desistimos do encontro.

Já com o Senhor Jesus, isso não se passa, pois para além da sua “pontualidade” ser uma constante, (porque Ele sempre está à nossa espera), nunca desiste do encontro connosco mesmo que cheguemos muito atrasados, mesmo até que faltemos inúmeras vezes ao encontro.

Aliás, Ele veio ao mundo, fez-se igual a nós em tudo, (excepto no pecado), precisamente para isso, para se encontrar connosco e nos mostrar o caminho da salvação, por isso mesmo a Sua espera por nós é uma espera permanente, constante, a fim de nos encontrar, para nos conduzir à felicidade eterna na Sua presença.

Por isso mesmo, também a nossa espera para o encontro com Jesus é uma certeza tão infalível da Sua presença, e assim, apenas O devemos esperar também em serena alegria, preparando-nos em tudo para O receber, e encontrando-nos com Ele, O seguirmos sempre e em tudo.

Vêm estas palavras, a propósito da chegada do Tempo do Advento já no próximo Domingo, que poderíamos reconhecer como o tempo da espera na ansiosa alegria, que se concretiza infalivelmente, se assim o desejarmos.

É difícil e inquietante esperar quando se tem dúvidas do que se espera, ou se receia que o esperado não apareça.

Agora, quando se espera por Aquele que se faz sempre presente, que nunca falta ao encontro, e que traz “apenas” o amor, a paz e o bem para nos dar, essa espera é uma tranquilidade, uma serenidade, uma alegria, que só é ultrapassada quando o verdadeiro encontro com Ele se dá, e enchendo-nos por completo, transforma esse encontro em vida plena, em «vida em abundância» (Jo 10,10), para que «a nossa alegria seja completa». (Jo 15, 11)


Vem Senhor Jesus,
nós Te esperamos em ansiosa e serena alegria.
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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

JESUS, A SAMARITANA, A VISITA PASTORAL DO NOSSO BISPO

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A passagem bíblica (Jo 4, 1-30) que nos é proposta, para iniciar a caminhada dos grupos de Lectio Divina, como preparação para a visita pastoral à nossa paróquia, do nosso Bispo, D. António Marto, relata-nos o encontro de Jesus Cristo com a Samaritana, junto ao poço de Sicar.

É com certeza uma passagem bem conhecida de todos, mas sempre que a lemos, sempre que a meditamos, sempre que a rezamos, podemos encontrar “coisa” nova, porque a Palavra de Deus é sempre viva, é sempre vida.

Hoje podemos perceber esta passagem como uma catequese, um modelo, um “guia de instruções”, que o Senhor Jesus nos dá para, guiados pelo Espírito Santo, sermos obreiros da evangelização.

Jesus faz-se encontrado com aquela mulher, junto ao poço, não como alguém superior, não como alguém que vai ensinar o que quer que seja, mas como uma pessoa “normal”, cansada, carente, que necessita do outro.
A sua primeira atitude é pedir, «Dá-Me de beber», e não se preocupa em nada com as regras sociais estabelecidas, com distinção de classes sociais, ou com outras “vergonhas” que pudessem existir.

Rompe assim com um possível distanciamento com aquela a quem se dirige, e provoca nela a curiosidade de tentar perceber quem é aquele homem que dela se aproxima sem medo, e sem receio do que possam dizer.
Esta atitude de Jesus, transmite à mulher, para além da natural curiosidade, uma firmeza de carácter, que leva á confiança naquele que assim se lhe dirige.

A curiosidade leva ao diálogo, porque a mulher precisa de perceber o porquê daquela atitude de Jesus.
Jesus aproveita então para lhe falar de algo que parece ser muito bom, algo que está disponível, mas que vai para além do normal do dia-a-dia.

Obviamente, a incredulidade faz-se presente na mulher, e ela opta por querer apenas “ver” o que é visível, por isso regressa à água do poço e à impossibilidade de a tirar sem um balde.
Mas Jesus, que já prendeu a sua atenção, vai agora abrir-lhe “o apetite” para algo que é muito maior do que a água do poço, e com a firmeza das suas palavras, fá-la ansiar por uma vida que ela quer reconhecer como a verdadeira vida.
E a mulher não resiste e pede a Jesus que lhe dê “aquilo” tão extraordinário de que Ele fala.

Mas para que a vida do dia-a-dia se conforme com a verdadeira vida que o Senhor dá, é preciso mudança de vida, mudança de prioridades, mudança de atitudes, é preciso conversão, e Jesus mansamente, sem julgamento, nem condenação, coloca-a perante as fraquezas da sua vida.
E a mulher reconhece-se na sua fragilidade, na sua fraqueza, e o seu coração abre-se à presença d’Aquele que lhe mostra o caminho.

Perante esta abertura da mulher, Jesus revela-se e o encontro dá-se, confirma-se e quando este encontro acontece, a vida muda, renova-se e deixa de ser vida individual, para passar a ser vida para os outros também, daí a necessidade que a mulher tem de ir contar aos outros a alegria, a novidade, que agora habita nela.

Pelo seu testemunho os outros aproximam-se, encontram-se também com o Senhor, e percebem então que já não é pelas palavras da mulher que acreditam, mas porque também se deixaram encontrar por Jesus Cristo.

Tantos passos e no entanto tão simples, que nos levam a pensar que testemunho damos nós, cristãos católicos, que atitudes tomamos nós, quando falamos aos outros de Jesus Cristo.

Quem procuramos nós para falar de Jesus?
É que somos tão “corajosos” a falar de Deus com aqueles que estão connosco em Igreja, mas sê-lo-emos também com os que estão á “beira do poço”?

E quando o fazemos, tomamos nós a atitude de quem tudo sabe, de quem tudo quer ensinar, ou aproximamo-nos humildemente e ouvindo, aproveitamos, guiados pelo Espírito Santo, para colocar Deus no dia-a-dia daquele com quem falamos?

E damos nós verdadeiro testemunho de tudo o que falamos, ou somos como o velho provérbio:
«Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz»?

Precisamos, enquanto comunidade paroquial, perceber se estamos fechados na nossa comunidade, ou se nos abrimos àqueles que estando fora, o Senhor chama à comunhão.

Precisamos perceber, se os sabemos acolher de tal modo, que eles sintam que precisamos deles, que eles percebam que a comunidade anseia pela sua vinda, pela sua comunhão, porque só assim se “faz” Igreja.

E precisamos entender que, sozinhos, por nós próprios, nada conseguimos, mas apenas em comunhão com Deus e com os irmãos, e que esta comunhão só se realiza em Igreja, na celebração dos Sacramentos, na vivência diária da fé, na prática da oração individual e colectiva.

A visita do nosso Bispo pode ser um momento para nos colocarmos perante as nossas fragilidades, mostrando o que fazemos, o que fizemos, e esperando a palavra do pastor que nos oriente no que havemos de fazer.

Coloquemo-nos à “beira do poço”, mostremos o que somos, e acolhendo o Senhor D. António Marto, com ele encontremos caminho para continuarmos e dando testemunho na cidade do nosso encontro, outros se aproximem, não por aquilo que dizemos ou fazemos, mas porque, pela graça do Espírito Santo, testemunhamos Jesus Cristo, vivo e presente no meio de nós e em nós.


Marinha Grande, 3 de Novembro de 2011


Nota:
Estamos a preparar na Paróquia da Marinha Grande, a Visita Pastoral do Senhor D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima a realizar em Fevereiro.
Este texto é fruto da minha colaboração no Boletim da Paróquia, "Grãos de Areia".
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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A PROVAÇÃO

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Recentemente fui confrontado com uma provação daquelas que doem no coração, daquelas que não passam, e ficam connosco ao longo de muito tempo.

Não me revoltei, (talvez já a esperasse no meu intimo), mas confesso que me abalou e tive que recorrer a toda a minha força para não mostrar a dor, o espanto que me causou.

O meu primeiro pensamento foi para Deus, não no sentido de com Ele protestar, mas sim pedindo-lhe que me ajudasse, que nos ajudasse, a viver e ultrapassar a provação que tinha permitido acontecer.

Passado algum tempo pensando em tudo com o que tinha sido confrontado, fui reflectindo que, se louvo a Deus por tudo quanto de bom me acontece, porque não hei-de louvá-lo também no que me parece não ser bom, mas que se Ele permite, terá com certeza algo de bom a retirar, porque em Deus tudo se transforma, e até nas coisas menos boas, se encontram razões para dar graças.

Que seria de nós, se nas nossas vidas não existissem dificuldades, provações, dores e tristezas?
Seria possível aprender alguma coisa da vida, se tudo corresse sempre bem, conforme nosso desejo, conforme nossa vontade?
E não colidem tantas vezes os nossos desejos e as nossas vontades, com os desejos e as vontades dos outros?
Se tudo fosse sempre bom e assim sempre acontecesse imutavelmente, que liberdade teria eu de fazer diferente, de escolher outro caminho?

Curiosamente, quando somos pais, dizemos muitas vezes aos nossos filhos que têm de dar valor às dificuldades, às provações, às coisas que não correm tão bem, para poderem perceber a vida, e percebendo-a, lutar por uma vida melhor, para darem mais valor àquilo que têm, e que provavelmente outros não possuem.

A verdade também, é que na provação as pessoas se unem, sobretudo em família, para não só se ampararem, mas para ajudarem também aquele que sofre, pois no seu sofrimento todos os outros sofrem também.

E assim, numa reflexão provocada pela provação, cada um vai encontrando os seus erros, as suas fraquezas, na sua relação com os outros, e a vontade de criar harmonia para consolar quem precisa, leva a tentar corrigir esses defeitos e a encontrar no verdadeiro amor, a mais clara razão para encontrar a paz, para arranjar ânimo para a luta contra a dificuldade.

E isto é tão verdade, que na maior parte das provações que têm a ver com a saúde, com o bem-estar de cada um, (porque as outras provações são a maior parte das vezes causadas por erros nossos), o ter muitos ou poucos bens materiais pouco resolve, porque o consolo para quem assim sofre, e para os que sofrem á sua volta, reside apenas e só no amor, que afinal é despertado pela provação, para se tornar real e verdadeiro na relação familiar.

E se o amor acontece, acontece sem dúvida o bem!

Assim, podemos perceber como de uma provação que é permitida nas nossas vidas, Deus nos leva a encontrar caminho de coragem para a luta, porque alicerçado no amor que em nós derrama, é amor também entre nós que nos une indelevelmente.

Uma provação, se aceite no louvor a Deus, é então um momento de reencontro com um amor, que à força da rotina diária, tinha perdido chama e calor e assim sendo mais não era que uma relação bondosa, mas carente de afecto e doação permanente.

E seja qual for o final dessa provação, ela deixará sempre naqueles que a vivem o melhor da vida, que é o amor que une aqueles que se querem, abençoado por Deus.

Onde acontece o amor, está Deus.

E onde está Deus com o homem e o homem com Deus, acontece a felicidade serena e tranquila daqueles que esperam, porque acreditam e confiam.

«E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» Mt 28, 20
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

«QUEM É O MAIOR NO REINO DO CÉU?»

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«Quem é o maior no reino do Céu?» *


Logo se levantam uns quantos,
dizendo em alta voz:
Serei eu,
sem dúvida,
que não falto a uma celebração,
que estou sempre de mãos postas
a pedir graças do Céu.


Mas logo chegam uns tantos,
que dizem por sua vez:
Serei eu,
sem dúvida,
que estou sempre em oração,
mãos abertas a pedir,
as graças para o coração.


Outros se chegam à frente,
e dizem em voz tremente:
Serei eu,
sem dúvida,
que procuro os que precisam,
e todos os dias lhes dou,
um pouco daquilo que tenho,
e assim terei recompensa.


Ainda outros se impõem,
dizendo por sua vez:
Serei eu,
sem dúvida,
que a cada hora e momento,
bato com a mão no peito,
pedindo perdão a Deus,
por aqueles que O não seguem.


Lá no fundo,
no meio da multidão,
prostrado na sua vergonha,
joelhos e cara no chão,
há um que reza baixinho:
Tem compaixão,
Senhor,
que eu nada sou,
nem quero ser,
mas apenas reconhecer,
que sou fraco e pecador.
Tem compaixão,
Senhor!


Aquele que tudo sabe,
Aquele que tudo pode,
Aquele que tudo vê,
tomou este nos seus braços,
e disse à multidão:
Fazei-vos crianças puras,
limpos para a Verdade.
Não vos glorieis de nada,
pois nada podereis sozinhos.
Sede pequenos,
pequeninos,
do tamanho da humildade.
E quando assim fordes,
como Eu fui,
estando entre vós,
o maior do Reino do Céu,
não será um,
mas todos vós!




*Mt 18, 1


Monte Real, 24 de Outubro de 2011
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